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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Essa gente


As pessoas acabam exagerando em tudo . E quando alguém bate o dedo mindinho na ponta do móvel já é motivo - pra quem pergunta o porquê de tanta irritação - de logo responder com um conjunto de palavras generalizadas : "hoje deu tudo errado" .

Sempre vai ter alguém achando que tem um problema bem maior do que do outro , assim como sempre haverá o egoísmo . É gente que se inferioriza , e assim continuará achando que a dor no mindinho é bem maior que a de uma mãe que acaba de perder o filho . Há tantos problemas no mundo : É gente passando fome desde sempre , e morrendo por isso . Crianças sem família , e quando educadas - muitas vezes entra aquela parte do egoísmo alí de cima -  e então tornam-se essas pessoas que só sabem reclamar de barriga cheia . É gente que tem comida na mesa versus quem passa fome , é gente que tem um teto pra morar versus moradores de rua , gente que surta porque o vaso de flores quebrou versus quem só tem as flores , quem reclama que dorme em um colchão duro versus quem dorme no chão , quem não tem o tênis da moda versus quem anda de pés descalços , é gente que fica duas horas no banho versus quem daria tudo por pelo menos dois minutos , gente que passa o dia inteiro de cara fechada porque não conseguiu o que queria versus quem sorri até mesmo quando ganha uma esmola . E agora,quem você acha que reclama ?

Passei a acreditar mais no : "Obrigada , Deus te pague" de um morador de rua sentado em uma calçada após receber uma moeda , no que um : "Obrigada querida(o)" de uma pessoa á quem eu vá dar um presente  de aniversário . E é isso que falta : Humildade , que muitos só tem quando realmente passam necessidade e sentem na pele o que é sofrer , o que é ter um dia de cão depois de chegar em casa - e quando se tem uma - e   não ter nem moedas para servir de jantar . As pessoas gostam de reclamar & reclamar , parece que assim elas se sentem melhor . E só esquecem de simplesmente serem felizes com o que tem .

5:15 A.M.


É hora de descanso.Shhhh . Dorme minha filha . Você tem que dormir , o dia amanhã lhe aguarda . Tira os fones de ouvido e recoste-se que o sono vem !

Mas nem sempre era assim . Muito menos tão fácil como parece . É costume , rotina . São os minutos - talvez horas - que preciso para organizar tudo que devo fazer durante o resto do dia, mesmo que me custe uma boa noite de sono , é o jeito que encontrei para me fazer melhor , mais atenta ao que possa vir , e quando vir . É esse descansar longo de olhos no comecinho da manhã,que consegue controlar a minha vontade de adormecê-los por poucos minutos para evitar um começo de discussão com um colega de serviço , e qualquer outro desentendimento que venha ocorrer.

Pego um edredom na pilha em cima da cadeira e conforto-me no chão ao lado da cama , e descanso a cabeça , os olhos , a mente e a alma . Assim que tudo é planejado e muito bem pensado , faço questão de desligar-me por alguns minutos, antes que eu tenha que voltar a realidade . O tempo às vezes passa rápido demais , e é quando pelas frestas dos olhos , sinto a luz do dia queimar e me avisar : Já passou das 5:15 A.M. , não é mais hora de dormir . 

sábado, 15 de setembro de 2012

Namore uma garota que lê



Namore uma garota que gasta seu dinheiro em livros, em vez de roupas. Ela também tem problemas com o espaço do armário, mas é só porque tem livros demais. Namore uma garota que tem uma lista de livros que quer ler e que possui seu cartão de biblioteca desde os doze anos.
Encontre uma garota que lê. Você sabe que ela lê porque ela sempre vai ter um livro não lido na bolsa. Ela é aquela que olha amorosamente para as prateleiras da livraria, a única que surta (ainda que em silêncio) quando encontra o livro que quer. Você está vendo uma garota estranha cheirar as páginas de um livro antigo em um sebo? Essa é a leitora. Nunca resiste a cheirar as páginas, especialmente quando ficaram amarelas.
Ela é a garota que lê enquanto espera em um Café na rua. Se você espiar sua xícara, verá que a espuma do leite ainda flutua por sobre a bebida, porque ela está absorta. Perdida em um mundo criador pelo autor. Sente-se. Se quiser ela pode vê-lo de relance, porque a maior parte das garotas que leem não gostam de ser interrompidas. Pergunte se ela está gostando do livro.
Compre para ela outra xícara de café
Diga o que realmente pensa sobre Murakami. Descubra se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entenda que, se ela diz que compreendeu o Ulisses de James Joyce, é só para parecer inteligente. Pergunte se ela gosta ou gostaria de ser a Alice.
É fácil namorar uma garota que lê. Ofereça livros no aniversário dela, no Natal e em comemorações de namoro. Ofereça o dom das palavras na poesia, na música. Ofereça Neruda, Sexton Pound, cummings. Deixe que ela saiba que você entende que as palavras são amor. Entenda que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade mas, juro por Deus, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco como seu livro favorito. E se ela conseguir não será por sua causa.
É que ela tem que arriscar, de alguma forma.
Minta. Se ela compreender sintaxe, vai perceber a sua necessidade de mentir. Por trás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance, diálogo. E isto nunca será o fim do mundo
Trate de desiludi-la. Porque uma garota que lê sabe que o fracasso leva sempre ao clímax. Essas garotas sabem que todas as coisas chegam ao fim. E que sempre se pode escrever uma continuação. E que você pode começar outra vez e de novo, e continuar a ser o herói. E que na vida é preciso haver um vilão ou dois.
Por que ter medo de tudo o que você não é? As garotas que leem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem. Exceto as da série Crepúsculo.
Se você encontrar uma garota que leia, é melhor mantê-la por perto. Quando encontrá-la acordada às duas da manhã, chorando e apertando um livro contra o peito, prepare uma xícara de chá e abrace-a. Você pode perdê-la por um par de horas, mas ela sempre vai voltar para você. E falará como se as personagens do livro fossem reais – até porque, durante algum tempo, são mesmo.
Você tem de se declarar a ela em um balão de ar quente. Ou durante um show de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Ou pelo Skype.
Você vai sorrir tanto que acabará por se perguntar por que é que o seu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Vocês escreverão a história das suas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos mais estranhos ainda. Ela vai apresentar os seus filhos ao Gato do Chapéu [Cat in the Hat] e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos de suas velhices, e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto você sacode a neve das botas.
Namore uma garota que lê porque você merece. Merece uma garota que pode te dar a vida mais colorida que você puder imaginar. Se você só puder oferecer-lhe monotonia, horas requentadas e propostas meia-boca, então estará melhor sozinho. Mas se quiser o mundo, e outros mundos além, namore uma garota que lê.
Ou, melhor ainda, namore uma garota que escreve.

[livro]

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

"E SE"


E se fossemos perfeitos,não teríamos mais nada para fazer aqui. E se fossemos bons o suficiente,por que teríamos que cair inúmeras vezes para aprender ? E se soubéssemos do futuro, faria sentido ficar no presente? E se quiséssemos ser eternos , a vida ainda faria sentido ? E se achássemos que é bem melhor viver só , o que o resto do mundo estaria fazendo aqui ? E se as vezes não fossemos egoístas, aprenderíamos a dividir ? E se não chorássemos de tristeza , saberíamos o que é ser feliz ? E se atravessássemos paredes, movêssemos montanhas, transformasse pobreza em riqueza , maldade em bondade , acabássemos com todo o lixo que há no mundo , da política , das armas , drogas , pessoas normais que passam por ti na rua , pegam o mesmo ônibus ou estão na mesma família e até mesmo na roda de amigos - espíritos que estão aqui para evoluir - e questionando . Espíritos em fase de evolução que estão na Terra para transformar o seu caminho . E Para isso , um corpo . De carne & osso . Esse é o caminho da evolução , tem que viver para ser . E se não fossemos ? E se , E se , E se .

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Irmandade em espírito


Á todo momento eram calafrios e sensações de estar sendo vigiada . De cinco em cinco minutos, parava-me aonde estivesse e fazia o sinal da cruz repetidas vezes para que os calafrios deixassem meu corpo. E com uma breve oração,pedia a quem quer que estivesse ali comigo marcando sua presença em minhas sensações, que pelo menos não ficasse contra mim . Pelo amor de Deus!

Desde nova tenho um problema que atordoa a mim e aos meus pais. Principalmente aos meus pais,já que são eles que sempre saem correndo atrás de mim quando tenho surtos de sonambulismo.Mas em um aspecto essa rotina noturna era diferente ,quem sempre guiava-me até a cama de volta , era minha irmã mais velha,com quem dividia o quarto. Mas era só pra isso que ela me tocava ,e seu único gesto era aconselhar-me a voltar para cama,antes que eu pegasse uma friagem por estar de pés descalços. E eu sentia suas mãos em meus ombros . Hoje posso dizer que aquele simples toque dava-me toda a segurança do mundo. O porquê eu não sei , mas dava . Amanhecia e ela continuava fria , parecendo uma zumbi, com pensamento distante e quase imóvel. Durante o dia fazia de conta de que o nosso quarto, era somente o dela e trancava-se lá até que a janta ficasse pronta.Assim que satisfeita,retirava-se da mesa como se estivesse fazendo um favor a todos,alimentando-se e marcando sua presença na ultima ceia do dia.Todos naquela casa,inclusive eu- mesmo não fazendo ideia do que se passava na cabeça dura de minha irmã - sabíamos que havia algo errado, mesmo que pelas conversas de meus pais eu soubesse que ela é assim desde que nasceu, estranha e quieta , em que até seus olhos eram imóveis e o choro durante o parto nem foi ouvido. Mamãe diz que foi a falta daquele choro que causou este estrago, e papai completa dizendo que os tapinhas não foram suficientes.

Eu sempre soube que minha irmã era diferente de tantas outras que vejo levando suas irmãs caçulas até o parque da rua , desde o dia que mamãe a indiciou de levar-me até lá , com cara feia ,ela se viu sem escolha e foi caminhando lentamente atrás de mim , como se eu que estivesse a levando até lá . Foi assim que aprendi com minhas próprias mãos e meu embalo do corpo a subir naquele balanço tão alto e dar impulsos que quase nem davam velocidade para a diversão. Ela estava lá no banco a minha frente só a me observar,com olhos vidrados como de costume. Enquanto tentava descer do balanço,acabei escorregando e batendo de cabeça em um ferro que estava por perto.E ela viu tudo e não fez nada. Eu desmaiei com a pancada , e quando acordei ela não estava mais lá. Eu não poderia deixar minha irmã por ai , eu não tinha ideia de onde ela poderia ter ido. E mesmo sabendo o caminho de casa , eu estava completamente perdida. Resolvi dar uma volta pelo parque. Ela não poderia estar muito longe.Mesmo com a cabeça latejando,dei voltas e voltas, e os únicos que eu via passar por mim eram homens feios e altos,com longas e serradas barbas, que me encaravam como se eu estivesse perdida. Mal sabem eles. Um daqueles caras,notei que já havia o visto umas quatro vezes passar por mim, e na quinta, eu já estava completamente perdida nas mãos daquele.Com a pancada eu me encontrava lenta, e cada vez mais sem forças para debater-me. E apaguei novamente.

Não tinha noção de quantas horas tinham se passado ou,naquela altura , até mesmo dias .Eu era criança, e bem avisada dos perigos de andar sozinha pelas ruas do bairro, mas naquele dia estranho,com minha irmã estranha ,mais perdida do que eu, os avisos dos meus pais nem sequer existiram.Quando dei por mim, eu estava em casa,rodeada por policiais e minha mãe e meu pai ao meu lado , não sabia qual dos dois chorava mais. Sem saber do motivo concreto de todas aquelas lágrimas, fiquei um tempo observando tudo que fazia movimento.  Estávamos no jardim de casa, e a cada cena as coisas ficavam mais complexas em minha mente ainda atordoada por aquele ferro que apareceu na minha frente que nem sequer me deu tempo de agir , e pelo desaparecimento da minha irmã que ainda não me conformo. Mas depois de tudo isso ainda vem a parte mais tensa e agoniante,o homem com a barba longa . Afoguei-me naquela imensa barba e fiquei inconsciente. Péssima hora para apagar ! Mas agora relembrando os fatos...o que aconteceu no principio eu bem lembro,o meio, bom , esse eu perdi , agora só resta saber se esse vai ser o fim.

Do jardim fui carregada a ambulância , que á frente , encontrava-se um carro sinistro , escuro e com um silêncio intenso e perturbador. Fecharam-se as portas do carro que causava medo, em que eu estava , junto a mim , mamãe , aflita . Nem chorar ela conseguia . Fechei os olhos pedindo pra que quando os abrisse , tudo aquilo fosse só mais um daqueles pesadelos que eu tinha todas as noites e que levantava-me inconsciente, só que dessa vez, quero estar bem atenta ao que estivesse acontecendo,pelo menos dessa vez, Senhor! Já estava no hospital , dessa vez sozinha . E sentia minha audição abandonar-me lentamente. Eu estava só , num quarto branco , sem nem ao menos falar e escutar minha voz ou qualquer outro barulho que possa ter aparecido. Comecei a rezar internamente , como papai havia me ensinado .

Amanhecia e anoitecia , durante anos foi assim dentro daquele hospital ,onde ninguém tinha ido me ver e nem me buscar.Eu crescia lá dentro, sem saber notícia de nada . Meus pais me esqueceram e minha irmã ainda continuara desaparecida? E com esses tantos anos esquecida naquele lugar, eu também já havia esquecido da utilidade dos meus ouvidos . Onde a unica coisa em que eu fazia era sair vagando pelos corredores . Haviam muitas crianças , e nenhuma parecia tão assustada quanto eu , mesmo já acostumada com a minha atual realidade. E foi aos poucos , e sozinha , que acabei descobrindo em que o hospital não se tratava somente de um hospital , e sim de um orfanato . Só fui saber disso quando vi duas mulheres uniformizadas conversando , e claro , com ajuda da leitura labial . Falavam da tragédia que acontecera há quatro anos atrás, que por coincidência tratava-se daquele meio da história que eu perdi . Comentavam como se ainda ninguém naquela cidade pequena tivesse superado . "A mãe havia enlouquecido e estava sendo medicada sob uma quantidade fortíssima de remédios para depressão , e o pai havia abandonado a louca ,  a filha caçula no orfanato,surda, com o tiro na cabeça que levou a mais velha , assassinada  pelo sequestrador da irmã . Família de loucos ! " Não tinha mais dúvida,aquela era a minha família , de loucos . Voltei ao quarto de onde nunca deveria ter saído e de onde minha curiosidade de lá também não deveria.

A todo momento eram calafrios e sensações de estar sendo vigiada . Eu acordei em um cemitério . Lembro de ter passado por ele no caminho até o parque ,só não lembrava de ter ficado tão aterrorizada quando o vi ,a ponto de ter vindo até aqui e agora e despertado o sonambulismo que há anos me deixou, sem saber o porquê e como de ter vindo . E as sensações de estar sendo vigiada ficavam cada vez mais forte . Eu não sei se aqueles vultos eram frutos da minha imaginação , se eu estava ficando louca como minha mãe , ou se realmente estava vendo espíritos de tantas covas que tem por aqui . É estranho -assim como minha irmã- sentir as mãos dela sobre meus ombros , sem pronunciar sequer uma palavra , mesmo sabendo que ela não estava ali me guiando em carne e osso , eu a tinha em alma e espírito , me levando em direção a saída . E como tantas vezes , ela aconselhou-me em poucas palavras : vá pra cama , senão vai pegar um resfriado .

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

[...] Eis a questão


Uma lata de refrigerante em uma das mãos e na outra uma tarde de verão , tocando a areia . Zilhões de flocos dela e pessoas que desconheço que um dia as tocaram do mesmo jeito que agora as toco . É engraçado pensar que assim como eu , há gente que se importa e tem aquela curiosidade de saber da história de um grão de areia . As vezes até me acho estranha por isso . E eu sou estranha . E muitos deveriam ser também , talvez seja isso que falte nas pessoas . Uma estranheza boa , saudável . Que agora que já classifico como sinônimo de curiosidade , esbanjo essa minha qualidade por aí , a cada canto que vou  sempre há um detalhe que ninguém enxerga ou passa reto , despercebido.  Com a falta de querer mais do que aquilo oferece .

Curiosidade de dever , de saber um pouco sobre tudo que me rodeia , e questionar-me um pouco , de vez em quando , pra falar a verdade , sempre . E assim que peguei meu refrigerante da bolsa , questionei-me sobre quantas mãos passaram sobre ele antes de eu o tocar . Antes de eu abrir esse sorriso prazeroso de satisfação por estar simplesmente me sentindo completa nesse momento , olhando o mar e já questionando-me sobre as ondas - mas aí é outra história - vamos lá refrigerante , por que me trouxeste tanta alegria ? Será que as pessoas que o fizeram vir até aqui estavam felizes tanto quanto eu ? Será que colocaram sorrisos e serenidade dentro dele também ? Essas pessoas gostam do que fazem ? - São coisas que não terei uma resposta , mas contento-me em saber que foi feito , e muito bem feito . Volto a olhar as ondas e dessa vez não o interrogo , e deixo o mar falar por si . Mas eu não seria eu se deixasse isso passar : A natureza é perfeita ! nada mais a declarar .

Por ser tão questionada aprendi a questionar também , e vi que não há nada de errado nisso . E que tudo tem um porquê todos sabemos , mas quase ninguém se interessa em aprofundar este porquê tão esquecido entre a humanidade . Pra que ficar retrucando quando aquilo que te dizem é o certo ,ou pelo menos dizem que é? Mas por que é o certo ? Ah , isso ninguém quer saber . Só aceitam . Sociedade alienada . Ninguém nunca ousou me perguntar porque sou tão rígida em relação a mínimos detalhes, só costumam me chamar de louca , louca e louca . E eu não devo e não posso me acostumar com essas atitudes , são inaceitáveis .

Costumo ficar aqui sentada na areia, pensando sobre ela ,ao mesmo tempo que observo o mar e analiso as pessoas que passam . Algumas tristes querendo disfarçar , já outras que não conseguem e também aquelas que nem querem . Gostam de mostrar para o mundo que estão sofrendo . Gente que aparentemente esbanja felicidade . Gente séria , ou só é a cara mesmo . E gente que vem aqui fazer o mesmo que eu . Falando nela ! - Eai tudo bem contigo ? demorou pra chegar . Eu já ia questionar sobre a nossa amizade . Sentá aí , tem lugar pra mais uma . Quer falar sobre o que ?  

quarta-feira, 16 de maio de 2012

escravos da saudade

 
Tô querendo amá-lo hoje . Não que eu o despreze o resto dos dias , mas é que hoje eu acordei com a saudade apertando o peito , sufocando até a alma . É a danada da saudade, que bate de uma hora pra outra até mesmo quando estou diante dos olhos amados que brilham na direção - da saudade - do te quero de novo mesmo sem ter ido embora - então fique , mesmo quando já tenha ido . 

Já quis ter saudade para o resto da vida , tanto de coisas que hoje , insignificantes quanto de pessoas , e são essas que mais me orgulhava de sentir saudade . Agora explica tudo . Eu tinha medo era de não sentir falta , permitir que aquele ''vazio'' fosse se fechando e eu não precisasse mais daquela pessoa pra nada , nem pra matar a famosa saudade . Não ter mais o que matar era o mais preocupante . Então desculpa mas não era amor , não era paixão , não era carinho . Era só vontade de sentir falta , e precisar disso pra continuar amando , ou achando que é amor . 

Quando menor ouvia dizer dos adultos que a distancia também era a melhor coisa para o relacionamento , assim que viam-se novamente era muito mais fácil de incendiar - e que aquele ''grude'' todo nunca iria acabar bem - , eles poderiam até ter razão . Eram escravos da saudade . Pessoas assim não duram muito não , acabam secas e vazias , tostadas pelas chamas que provocaram completamente forçadas pela aquela distancia que aparentemente seria melhor para o relacionamento , não para ambos . Ficam por um bom tempo sem saber o que é essa saudade que todo mundo fala que é horrível e te consome por dentro, até ouvir novamente a voz que tanto faltava para o dia melhorar completamente . 

Um ano e um mês . E essa saudade tá sempre crescendo . Hoje eu digo que sou a saudade em pessoa , a falta daquele sorriso 24 horas , a necessidade dos conselhos e da voz que nela soam , tenho saudade de tudo , tudo mesmo . Um ano e um mês parece ser tão pouco ,  realmente é . Mas agora , daqui a pouco , serão dez , vinte , trinta anos , e eu estarei pelos cantos da nossa casa , ou onde quer que eu esteja lamentando-me da terrível saudade que me deixaste , e depois do dia longo de serviço abraçarei o quanto meus braços fracos destruídos pelo tempo , aguentarem . Como eu posso ter certeza disto ? Nunca precisei ser escrava da saudade . 




sexta-feira, 30 de março de 2012

O amor chega em uma hora

Só lembro que joguei meu celular em cima do sofá fofo , e rezei para que não caísse no chão . Sei lá se caiu ou não , não deu tempo de olhar para trás , eu estava nervosa e com pressa , ansiosa em direção a porta , estava com a saudade no peito . Ele tá chegando ! Há duas horas atrás nos falávamos do aeroporto , e ele parecia que já havia esquecido de como é que se faz aquela voz de que tanto gosto de ouvir , aquela que falava sussurrando , tudo que eu gostava de escutar .

Ganhamos créditos por tão pouco tempo ao telefone . Talvez seja melhor não esquentar com isso , ele tá cansado . Pensei coçando os olhos pra não chorar . Talvez eu seja boba demais, paranoica demais , cansada de tanta saudade , demais . Tudo tornou-se "demais" desde sua partida . Até meus ataques de ciúmes . Tô começando a achar que ele se perdeu pelo caminho de casa , ou nem sequer cruzou-o . O amor chegaria em uma hora , e eu ainda aqui , nervosa e ansiosa pra tirar essa saudade de mim , livrar-me de vez . Daí ele tocaria a campainha e sem pensar duas vezes pularia para cima e atiraria-o no sofá fofo , rezando para que caíssemos no chão e rolássemos de felicidade , de amor , de querer . Meu amor , prometo que quando chegar não deixarei partir novamente , e mordiscarei-o até aceitar meus pedidos de desculpas por ter o deixado .

Abro a janela de casa e tem um carro que passa lá longe, enquanto eu tento abrir os olhos e encarar esse dia em que você chega. Esse carro não sabe, mas foram mil anos abrindo os olhos e ouvindo carros e ouvindo ruas e não ouvindo a sua voz. E agora a sua voz existe e você chega em uma hora. Eu não consigo comer de tanto medo que eu estou sentindo. Eu quase desmaiei agora de manhã, porque pra piorar está calor. Não lido bem com calor. Não lido bem com a falta de você , com a sua demora , com a saudade . Por mais que eu tente não consigo pensar em outra coisa a não ser que sua demora vai ser demorada por mais umas boas demoras ainda . Não é justo . Atirei-me ao sofá suspirando de raiva e fiquei um bom tempo encarando o teto .

Foi quando abri os olhos e eu estava atirada no chão . A porta em que eu o esperava estava encostada e eu não lembrava de ter a deixado , assim como não lembrava de ter atirado-me no tapete . Joguei meu braço para o lado e na queda amassei uma folha de papel amarela . " Amor , cheguei e tive que dar uma saída , mas volto em uma hora . Você estava dormindo e não quis acordá-la , dormia tão linda que não quis estragar . Já falei que você fica linda dormindo ? É e fica mesmo , espero poder vê-la assim para o resto dos meus dias quando acordar ao seu lado . Você deve estar se perguntando por onde ando agora , não é mesmo ? Não se preocupe comigo , estou com você agora . Feche os olhos e descanse " . Ele só pode estar louco - era só o que eu conseguia pensar - deveria ter me acordado , e eu não deveria ter dormido . Faço tudo errado , sempre . Meu amor de uma hora não chegará mais .

"Você nunca faz nada errado , meu amor e eu estou aqui" ele cruzou a porta como eu esperava e só não atirei-o no sofá porque fiquei totalmente paralisada quando o vi carregar consigo , uma aliança . "É pra mim ?" "Pra quem mais seria ?!" "Esperei você por uma hora" "Eu esperei por você minha vida inteira" . Eu caso com você .

E ele , me abraça e me dá outro desenho, é o vilão da minha vida programada. Ele é o tufão de oxigênio que invade meu nariz mas, porque estou com tanto medo, mais parece falta de ar. Agora é menos de uma hora. Preciso terminar esse texto. Mas eu tenho medo, sobretudo, de terminar esse texto. Sobre o que eu vou escrever se você for melhor do que esperar por você?

sexta-feira, 2 de março de 2012

Sorri porque fui forte , fui forte e sorri

Eu canso de falar de sorriso quando eu sei que não há nenhum por perto . Já falei muito . Mas cansei . Como qualquer outro fala da sua rotina corrida , e transito e carros e buzinas e corre e corre - e nem pensa em caminhar - eu canso como qualquer pessoa cansa e sofre por fazer sempre tudo tão igual , e muitas vezes faço coisas sem sentido sem pensar no que virá depois , ou quem virá . Ninguém sabe . esperando por uma coisa boa , que faça sentindo e não me faça perder tempo pensando no que e como fazer , onde socar todo o mal que anda me perseguindo , e nem sei quem o faz e o por que faz . Só sei que as vezes atinge , como a terra é abafada pela água da chuva em grande pressão . E eu que queria uma vez na vida sentir-me abafado , cuidado , tocado . Penso num jeito de fazer essa água ficar mais amena , de um jeito que possa se lidar , e peço que logo fique habilidoso e consiga acalmá-la e fazê-la parar , não machucar e nem pensar em ferir outra vez . Isso dói . Querer com que as coisas fiquem do meu jeito , de um jeito que eu possa mexer na terra e na água , e não sinta a pressão de querer mexer e mudar de lugar , remexer e mexer , como eu quero , como tem que ser . Deveria ser , só por que eu quero ? ou por que tem que ser ?
Consequentemente sinto a pressão de querer mudar e não achar posição para fazer . Achava isso injusto até dias atrás , até encontrar o que realmente faltava na terra . Eu precisava de força , de água fresca e carinho , amor . Alguém que preocupa-se em largar a água com cuidado . Eu era frágil demais , e aprendi a ser forte quando a água veio em grande pressão .



Além do ponto


Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem
nada, eu sempre perdia todos pelos bares, só levava uma garrafa de conhaque barato apertada contra peito, parece falso dito desse jeito, mas bem assim eu ia pelo meio da chuva, uma garrafa de conhaque na mão e um maço de cigarros molhados no bolso. Teve uma hora que eu podia ter
tomado um táxi, mas não era muito longe, e se eu tomasse o táxi não poderia comprar cigarros nem conhaque, e eu pensei com força então que seria melhor chegar molhado da chuva, porque aí beberíamos o conhaque, fazia frio, nem tanto frio, mais umidade entrando pelo pano das roupas,pela sola fina esburacada dos sapatos, e fumaríamos, beberíamos sem medidas, haveria música,sempre aquelas vozes roucas, aquele sax gemido e o olho dele posto em cima de mim, ducha morna distendendo meus músculos.
Mas chovia ainda, meus olhos ardiam de frio, o nariz começava a escorrer, eu limpava com as costas das mãos e o líquido do nariz endurecia logo sobre os pêlos, eu enfiava as mãos avermelhadas no fundo dos bolsos e ia indo, eu ia indo e pulando as poças d’água com as pernas geladas. Tão geladas as pernas e os braços e a cara que pensei em abrir a garrafa para beber um gole, mas não queria chegar na casa dele meio bêbado, hálito fedendo, não queria que ele pensasse que eu andava bebendo, e eu andava, todo dia um bom pretexto, e fui pensando também que ele ia pensar que eu andava sem dinheiro, chegando a pé naquela chuva toda, e eu andava,estômago dolorido de fome, e eu não queria que ele pensasse que eu andava insone, e eu andava,roxas olheiras, teria que ter cuidado com o lábio inferior ao sorrir, se sorrisse, e quase certamente sim, quando o encontrasse, para que não visse o dente quebrado e pensasse que eu andava relaxando, sem ir ao dentista, e eu andava, e tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era. Começou a acontecer uma coisa confusa na minha cabeça, essa história de não querer que ele soubesse que eu era eu, encharcado naquela chuva toda que caía, caía, caía e tive vontade de voltar para algum lugar seco e quente, se houvesse, e não lembrava de nenhum, ou parar para sempre ali mesmo naquela esquina cinzenta que eu tentava atravessar sem conseguir, os carros me jogando água e lama ao passar, mas eu não podia, ou podia mas não devia, ou podia mas não queria ou não sabia mais como se parava ou voltava atrás, eu tinha que continuar indo ao encontro dele, que me abriria a porta, o sax gemido ao fundo e quem sabe uma lareira, pinhões, vinho quente com cravo e canela, essas coisas do inverno, e mais ainda, eu precisava deter a vontade de voltar atrás ou ficar parado, pois tem um ponto, eu descobria, em que você perde o comando das próprias pernas, não é bem assim, descoberta tortuosa que o frio e a chuva não me deixavam mastigar direito, eu apenas começava a saber que tem um ponto, e eu dividido querendo ver o depois do ponto e também aquele agradável dele me esperando quente e pronto. Um carro passou mais perto e me molhou inteiro, sairia um rio das minhas roupas se conseguisse torcê-las, então decidi na minha cabeça que depois de abrir a porta ele diria qualquer coisa tipo mas como você está molhado, sem nenhum espanto, porque ele me esperava, ele me chamava, eu só ia indo porque ele me chamava, eu me atrevia, eu ia além daquele ponto de estar parado, agora pelo caminho de árvores sem folhas e a rua interrompida que eu revia daquele jeito estranho de já ter estado lá sem nunca ter, hesitava mas ia indo, no meio da cidade como um invisível fio saindo da cabeça dele até a minha, quem me via assim molhado não via nosso segredo, via apenas um sujeito molhado sem capa nem guarda-chuva, só uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito.
Era a mim que ele chamava, pelo meio da cidade, puxando o fio desde a minha cabeça até a dele, por dentro da chuva, era para mim que ele abriria sua porta, chegando muito perto agora, tão perto que uma quentura me subia para o rosto, como se tivesse bebido o conhaque todo, trocaria minha roupa molhada por outra mais seca e tomaria lentamente minhas mãos entre as suas, acariciando-as devagar para aquecê-las, espantando o roxo da pele fria, começava a escurecer, era cedo ainda, mas ia escurecendo cedo, mais cedo que de costume, e nem era inverno, ele arrumaria uma cama larga com muitos cobertores, e foi então que escorreguei e caí e tudo tão de repente, para proteger a garrafa apertei-a mais contra o peito e ela bateu numa pedra, e além da água da chuva e da lama dos carros a minha roupa agora também estava encharcada de conhaque, como um bêbado, fedendo, não beberíamos então, tentei sorrir, com cuidado, o lábio inferior quase imóvel, escondendo o caco do dente, e pensei na lama que ele limparia terno, porque era a mim que ele chamava, porque era a mim que ele escolhia, porque era para mim e só para mim que ele abriria a sua porta. Chovia sempre e eu custei para conseguir me levantar daquela poça de lama, chegava num ponto, eu voltava ao ponto, em que era necessário um esforço muito grande, era preciso um esforço tão terrível que precisei sorrir mais sozinho e inventar mais um pouco, aquecendo meu segredo, e dei alguns passos, mas como se faz? me perguntei, como se faz isso de colocar um pé após o outro, equilibrando a cabeça sobre os ombros, mantendo ereta a coluna vertebral, desaprendia,não era quase nada, eu, mantido apenas por aquele fio invisível ligado à minha cabeça, agora tão próximo que se quisesse eu poderia imaginar alguma coisa como um zumbido eletrônico saindo da cabeça dele até chegar na minha, mas como se faz? eu reaprendia e inventava sempre, sempre em direção a ele, para chegar inteiro, os pedaços de mim todos misturados que ele disporia sem pressa, como quem brinca com um quebra-cabeça para formar que castelo, que bosque, que verme ou deus, eu não sabia, mas ia indo pela chuva porque esse era meu único sentido, meu único destino: bater naquela porta escura onde eu batia agora.
E bati, e bati outra vez, e tornei a bater, e continuei batendo sem me importar que as pessoas na rua parassem para olhar, eu quis chamá-lo, mas tinha esquecido seu nome, se é que alguma vez o soube, se é que ele o teve um dia, talvez eu tivesse febre, tudo ficara muito confuso, idéias misturadas, tremores, água de chuva e lama e conhaque no meu corpo sujo gasto exausto batendo feito louco naquela porta que não abria, era tudo um engano, eu continuava batendo e continuava chovendo sem parar, mas eu não ia mais indo por dentro da chuva, pelo meio da cidade, eu só estava parado naquela porta fazia muito tempo, depois do ponto, tão escuro agora que eu não conseguiria nunca mais encontrar o caminho de volta, nem tentar outra coisa, outra ação, outro gesto além de continuar batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo nesta porta que não abre nunca.

(Caio Fernando Abreu)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A menina e a mulher


Convivem : Não se amam e praticamente não se detestam . Pode-se dizer que na maioria das vezes a solução é ignorar . A mulher finge que não vê a menina fofocar e provocar na sua frente , pra evitar confrontos , e a menina se diz adulta e madura ao falar o que pensa na sua cara porque aliás , em sua cabeça diz que o certo é xingar de todos os palavrões possíveis olhando fixamente a quem quer ofender , esperando que a veja . Esperando ser notada . Querendo uma resposta de toda aquela birra , mas não se engane menina , ela não vai lhe responder . A mulher sente um tanto de remorso e culpa por ter que permanecer perto de alguém tão incompleta . Ela não liga pra você , pro que faz , pro que quer e tampouco pro que diz essa sua meninice .

Espere que ela vá bater o pé até conseguir o que quer , espere tudo dela . Meninas são assim , previsíveis . Desconhecedoras de conversas bacanas com conteúdo , falam da vida alheia como se quisessem vivê-las . Algum dia a mulher irá escutar uma frase , palavras de gente madura saindo da boca de meninas , mas elas não saberão pronunciá-las novamente . Se torna habitué de chantagens emocionais, sexo como resolução de todos os problemas, e pedidos com sua vozinha infantil aceitos, assim que feitos. É uma correndo enquanto a outra engatinha. A que luta e quem apenas - diz que - sonha .

A garota se deslumbra com carro, status, e dinheiro, a mulher já conhece o estigma dessas futilidades todas: passageiro .Mulheres estão atrás de caráter; meninas, ascensão social. Meninas checam insistentemente o celular; mulheres, o jornal. Mulheres e a saborosa degustação de uma bebida moderada junto a um prato delicioso de comida. Meninas e o pensamento anoréxico de não precisar se alimentar direito "que saúde nem é tão importante assim, mas magreza, sim". Mulheres sempre vão querer mais , ir além . Meninas contentaram-se com a mesmice . Mulheres estarão crescendo todo dia mais , enquanto meninas farão de conta que cresceram primeiro que elas , vão querer viver como mulheres , agir , falar , ser . Outras, de tanto se focar na cópia, demoram a realmente serem especiais e íntegras damas. Mas quem disse que elas conseguem e querem ser elas mesmas ?

O caso da receita da vida


Diariamente eu chego a simples conclusão de que a vida é tão maravilhosa porque também é feita de colos, de feridas que cicatrizam, de amigos que celebram ou choram junto, de gente que pega ônibus ou faz caminhadas ao ar livre , de pessoas que preferem o dia do que a noite , gente que só quer curtir e viver o agora ou quer casar e só pensar no futuro , viver somente do passado ou do presente ou do futuro , ou não viver .

E a vida só é a vida por isso , pelas milhões de escolhas que fazemos todos os dias , da cor da roupa ao pedido de noivado , se quer continuar , se quer mudar , se quer parar , se quer ser levado a serio , se prefere mentir ou falar a verdade , se quer deixar ser amado ou viver em exclusão , se sonha em ser livre ou ser dependente pro resto da vida , se é agora ou nunca , se quer pular , dançar , correr , festejar , arrumar ; e todos os outros miliares de verbos que você ajuda a conjulgar todo dia quando acorda e olha no espelho seu reflexo e de tudo que você fez até agora , e quer se perguntar "Quem sou eu" e as vezes tem medo da resposta , da pergunta mais frequente e importante que você tem que fazer até ir aonde quer chegar , mas nem todos tentam ou não querem saber , o medo faz parte da vida , e principalmente das nossas escolhas , o medo não tem como conjulgar verbalmente como todos os outros , mas tem como escolher "Eu quero continuar com esse sentimento?" , "Quero livrar-me ou viver preso a ele?" .

Mas o que nem todos sabem , é que o medo não é todo esse peso que carrega em seu nome , as pessoas o fazem . O medo é um dos sentimentos mais fracos que existem , e vem cá , medo é sentimento ? Ou é só o medo ? Logo você deixa de tê-lo quando sai na rua e vê que há uma força bem maior , uma que cuida e protege e abraça toda sua fraqueza para que ela vire a força que faltava pra libertar-se a si mesmo . Agora abra a janela e veja que tudo é força , é energia boa , e são escolhas , e isso tudo sempre será mais forte e capaz de passar por cima de qualquer coisa ruim que venha a lhe acontecer , aliás , você sempre terá Aquele que nunca lhe deixará cair e você só precisa , acreditar .

Encaixou , moço


Aquele moço, desde sempre, tinha um jeito especial de me fazer sorrir; de me conduzir ao seu encontro toda vez que eu, ainda sufocada com aquele velho nó na garganta, afundava. Um jeito especial de fazer eu ver que aquilo tava errado , não poderia ser assim . Eu tava errada em guardar aquele nó todo aquele tempo , sem dizer a ninguem o seu motivo , mais errada ainda em não querer ajuda e continuar tão orgulhosa , e eu era assim e sempre fui , mas os abraços dele , talvez tenham me tirado todos aqueles defeitos que eu sempre quis ver bem longe de mim , e atrapalhava e me escondia e me empurrava e não deixava eu ver que tinha que mudar , e que eu afastei as pessoas de mim , por isso . Eu mudei e tive que mudar para não perder mais um , que agora já passara de um artigo indefinido . Agora eu tava certa de que valia deixar ajudar , era certo entregar-me de braços abertos , se fosse preciso pra ver longe o que me incomodava e ter bem perto a minha conquista . Agora é definitivo , é nós moço.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sensação sem título aparente



A sensação de alguém estar enfiando uma moeda lentamente no meu cérebro. Eu me sentei no sofá e levei a mão a testa,fechei os olhos com uma expressão de dor e cansaço.Então por alguns instantes não lembrava onde e nem o que fazia ali.Mas esse transtorno não durou muito . Foi só escutar vozes de pessoas a quinze andares abaixo de mim , que logo invadiram minha mente , tornaram-se gritos mais escandalosos que o normal ,como faziam antes de recostar-me aqui e tampar a cabeça ,como se a moeda estivesse perfurando a cada indagação que fizesse . É , agora eu lembro , esse foi o motivo . Pessoas , gritos , tumulto . Levantei-me devagar como uma senhora de setenta anos , mão na coluna como se fosse deslocar a qualquer momento , e com a mão na testa , não a tirava por nada , nem que caísse todos os ossos do meu corpo . Nunca me senti tão confusa e tão curiosa e tampouco irritada como naquele momento . Eu já estava na janela olhando lá de cima todo aquele vai e vem de carros e pessoas , e aliás , meus vizinhos . Perguntei-me por varias vezes se realmente eram meus vizinhos , mas esse nem era o alto da questão - por que estavam todos ali parados , olhando em direção a minha janela , ao meu apartamento ? - por que estavam todos franzindo suas testas como se tivessem com a mesma sensação que eu , só que olhando aos meus olhos e reparando na moeda na minha cabeça ?
E eu estava exausta , e continuei . Continuei também com todas aquelas perguntas , continuei com os olhos lacrimejando,continuei com o corpo fraco e a boca seca , coração tão lento como a de um cadáver . Vi por mim que não poderia ser normal . Aquelas pessoas lá em baixo sem parar um minuto para respirar também não era normal.O que está havendo afinal?!Por que todos me vêem mas ao mesmo tempo não.Por que tantos gritos , tanta bagunça,tanto...desespero. E eu mais desesperada do que qualquer um sem saber o que estava acontecendo de baixo do meu nariz,literalmente. Sim , eu estava desesperada . Mas de uma forma diferente , que nem eu mesma reconhecia essa .
Afastei-me devagarzinho da janela , pé ante pé saindo pela minha retaguarda , foi então que cai no chão enrolada no tapete que nem lembrara de tê-lo , meu celular começou a vibrar e eu tive que ponderar mentalmente se valia a pena me mover para atendê-lo.Mas eu precisava ter alguma noticia da movimentação,se poderia aquele alguém me ajudar.Abri os olhos devagarinho e vi o nome dele no visor, estiquei os dedos e atendi. Eu não precisei falar nada além de "Alô" para que eu notasse que havia algo errado. Ele não me ouvia , nem ao menos ruídos de uma ligação com pouco sinal , o vibrar de sua voz só pronunciava um "responda" vazio e inerte - apareça na janela , faça algum sinal de que está tudo bem , não deixe todos nessa pilha de nervos , por favor , já estão indo te tirar daí !- e era isso que mais me preocupava . O que eu poderia fazer além de tudo que já fiz , ele não me ouvia , pelo jeito ninguém me viu na janela , estou ficando louca ? Ele está louco ? Porque querem me tirar daqui ?
Levantei-me e novamente apareci na janela , acenei , tentei chamar atenção , os olhares voltados para mim , mas inutilmente atentos para meu aparecimento .
Liguei para ele e falei da brincadeira sem graça que estavam fazendo , pedi para que ele passasse o recado para todos que me aguardavam lá em baixo , por um motivo que eu desconheço até então , mas que parassem já ! Foi então que ele somente respondeu com um "Alô ? fale alguma coisa , você está bem ?" Ele estava chorando e todos os ruídos a sua volta pareciam estar também . Ele não me escutava de jeito algum . Liguei a tevê do meu celular sem saber o que fazer . Meus olhos ficaram fixos e ouvidos completamente voltados para a notícia : "Edifício é interditado por perigo de desmoronamento e investigações , cinco pessoas parecem ainda estar presas , mas somente uma no décimo quinto andar com mais difícil acesso" . Era o meu prédio , o meu bairro , as mesmas pessoas que me olhavam pela janela , o meu namorado . A pessoa de quem falam pela tevê , sou eu . Mas não tem nada de errado aqui , meu apartamento está intacto , exatamente igual como deixei antes de .... acordar com aquela dor insuportável como a de uma moeda agora corroendo meu cérebro . Será que a dor era tão forte capaz nem de ao menos perceber que tudo a minha volta estava caindo , terminando , quase chegando ao fim , enquanto eu somente mantinha minha mão sobre a testa rente ao lugar que supostamente faria o buraco para a chegada , ou o termino , como queiram interpretar , pra mim tanto faz , aquilo parecia que acabaria quando passasse por ali , saísse de mim aquele desconforto , aqueles gritos .
Abri a porta , olhei em volta e havia somente destroços , paredes quebradas , rachadas - foi tudo muito rápido , quando dei por mim , já havia percebido tudo que estava acontecendo , com meus próprios olhos - e um cão preto sufocando-se em baixo daqueles , eu queria correr até ele e o fazer ficar perto de mim .E eu corria e sem sequer movia-me um passo a frente e ao msmo tempo ,algo que me puxava pra dentro do apartamento toda vez que dava mais um passo de esperança.Que aos poucos foi ficando mais inerte do que o meu corpo físico .Aquela força parecia maior que eu , maior que as rachaduras . Me vi rezando sem crença para que a dor sumisse ; não sumiu . Para que eu pudesse trazer aquele cão junto a mim ; não consegui . E a dor só ficava mais forte e involuntariamente me vi com aqueles olhos arredondados e pretos , pêlo ofuscado pelas chamas ,entre os meus braços.Foi o momento que a esperança voltou e tive mais vontade de sair dali,de ver aqueles vizinhos chatos,mas preocupados comigo.Eu estava com saudade do meu namorado,do meu apartamento bagunçado.Mas agora eu só queria pôr em ordem tudo isso. Foi quando o chão começou a desabar , e não havia mais nada entre meus braços .Eu o perdi ,a esperança me abandonou. Não havia mais gato , não havia mais paredes , nem gritos . Sabe quando dizem que quando se está a segundos de milésimos da morte , você vê a vida passar em um flash e tem saudade de tudo aquilo que não viveu ? Essa era eu . Virei saudade .
Em meio a tantos momentos que passaram-se na minha mente , um deles abriu o buraco por onde a bala estava perfurando desde cedo.E eu estava outra vez em meio a minha sala , em meu sofá , atirada em minhas almofadas , celular ainda em baixo delas como eu o tinha deixado . As luzes do apartamento, os sons da rua , tudo doía . E rodava , e enjoava . Agora eu havia acordado com aquela mesma dor atravessando meu cérebro , só que diminuía e ia deixando-o lentamente , numa dorzinha boba que ia e vinha , que deixava minha cabeça aos poucos , e deixou definitivamente . E eu me deixei ali , naquele momento , tentando salvar o cão feito de esperanças  . E eu o salvei .

E é só isso que eu consigo me lembrar.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Longe do faz de conta

Não quero mais casar com aquele menino - do carrinho de fricção vermelho , que minha mãe tanto sonhava . Decidi crescer e deixar a boneca com lacinhos para trás , junto com o carrinho . E menino , você também . Não quero mais . Na verdade , nunca quis .
Eu era criança , e não sabia que as coisas iriam ficar mais complexas com o passar dos anos . Pensava que casar era brincar de casinha , deixar de ser mãe solteira e passar a ter um garoto dentro de casa pra lá e para cá , com o carrinho que não soltava por nada , nem que eu o empurrasse contra a parede suplicando que corresse atrás das crianças , enquanto fazia seu almoço para levar pro trabalho . Seu único gesto era : Quê crianças ? E eu nada escutava . E ele dizia que saia para trabalhar , enquanto eu fazia de conta de que ele não estaria na casa de sua mãe lhe pedindo colo e batendo o pé por aquele carrinho novo que tanto queria . Ele saía e não voltava mais , se escondia , corria com seus amiguinhos e me chamava de louca . Eu louca ? Só um pouquinho , por uma família minha , filhos meus , casa para eu cuidar , e principalmente um marido que não inventasse qualquer desculpa para não ficar pro café da manhã .
Eu queria casar , o mais rápido possível . Estava preparadíssima para cuidar de mim sem a mãe por perto , afinal , eu era a única que adorava fazer de conta que era adulta , de que era uma mulher feita , cheia de filhos puxando a barra da minha saia enquanto fazia o almoço , e achava que tinha muitos compromissos . Logo mais daria uma ajeitadinha na casa á espera de um marido que nunca chegara .
Talvez eu tenha esperado tanto por tudo isso que a um tempo atrás eu já não queria cuidar nem de mim . Foi nessa parte da historinha que deixou de ser um conto infantil pra tornar-se um romance adulto , com casa , filhos , emprego , responsabilidades e aquele tal de príncipe encantado que mesmo eu o chamando assim , como nas historias de contos de fada , não deixa de ser . É o meu príncipe , aquele que eu tenho absoluta certeza de que nunca fugirá como os outros . Esse não brinca de carrinho . Ele veio de cavalo branco e me resgatou de todas as histórias de terror , beijou minha mão olhando nos meus olhos e então disse : nós vamos ser felizes para sempre . Afinal , já passamos da fase de brincar de faz de conta . Há muito tempo .

sábado, 19 de novembro de 2011

Adaptavel

E se melhorar estraga . Se estragar dificilmente conserta . Assim nunca mais meus brinquedos consertariam-se e como ficou aquele amor que foi-se com os brinquedos ? Bom , era um brinquedo , não era mãe ? A senhora tirou de mim e disse que nunca mais voltaria, daria para outra que precisasse mais que eu , que fizesse bom uso . E quem disse que eu nunca fiz ? Mamãe dizia que como todo brinquedo , um dia ele se desgasta , quebra - mas até hoje tento lembrar de sequer um arranhão que eu tenha feito , e não recordo de nenhum - mamãe poderia estar enganada , aqueles não eram meus , sempre cuidei com carinho e agora já não eram mais meus , ela levou como havia dito , outros virão e aquele havia de passar pra frente senão nunca mais encontraria outro que satisfazesse do mesmo jeito . Mas mãe ...
De tanto esperar por eles , eu não brinquei , eles não mais vieram . Acreditei na minha mãe para agradá-la e mostrar que consigo praticar o desapego , desde que me conheço por gente mudo meu jeitinho para agradar alguem . E se eu me apaixonasse por um menininho,aos 6 anos e ele gostasse de brincar com arminhas , eu começava a brincar , e eu gosto de arminhas . Se aos 10 me apaixonasse por um menino que gostasse de jogar Mário , eu começava a jogar , não que eu não goste de Mário , pelo contrário . Eu adoro jogar Mário . Se me apaixonasse por um aos 12 e ele amasse jogar e assistir futebol,eu assistia.Não que futebol seja uma coisa ruim,bem pelo contrário.Eu adoro futebol. E isso sempre foi o meu problema , sou muito adaptável . E agora estou aqui sonhando em ter uma arma , jogando Mário , e assistindo futebol , dormindo até uma da tarde , com o cabelo bagunçado e preto a frente do computador esperando pelo menino de 18 anos pelo qual me apaixonei aparecer , falar com ele pelo msn , porque afinal , assim podemos nos falar quando estamos longe , e eu gosto de falar com ele pelo msn . Acabo de dizer que eu gosto . Não precisei mudar por esse amor . E isso não seria uma coisa muito normal anos atrás . Minha mãe tem que ver isso . Mãe , não preciso mais dos brinquedos , pode dar pra alguém que realmente precise . Não preciso mais mudar por ninguem . O amor fez o favor de me mudar .

Estamos tão perto

Estamos tão perto.Eu digo como se nunca estivessemos.Nosso ar aqui é uma grande novidade,criamos um mundo para nós nos encontrarmos,afundar frustrações em beijos úmidos nas tardes de primavera.Moço,feche os olhos e vem comigo como sempre fizeste.Seja forte e não queira voltar atrás,apenas me ame como diziam aquelas palavras.Estamos tão perto agora.Não deixe isso nos afastar,nunca.Estamos tão bem,tão calmos e as flores roxas caiem sobre nós de um jeito que ameniza as sensações de viver um sonho,mas moço eu ainda sinto seu perfume,talvez as flores da primavera sejam somente um pretesto pra que você não vá.Não leve essa sensação gostosa de fim de tarde junto ao teu cheiro de roupa limpa.Estou dizendo para que fique mais um pouco,até a ultima flor cair sobre nossas faces,até enjoar do doce aroma e de todas aquelas expressões de surpresa.Estivemos sempre tão perto,tão juntos.Prometa não me deixar aqui esperando a ultima flor,prometa esperar comigo aquela que traga sorrisos , espere até a próxima semente cair sobre nós . Estamos tão perto .

sábado, 29 de outubro de 2011

E por falar em moda

Hoje em dia podemos dizer que respirar está virando moda , e não estar na moda também faz parte do contexto . Eu particularmente amo moda e tudo o que ela influência . Ela está sempre girando ao nosso redor formando um ciclo , onde tudo aquilo que já fez brilhar passarelas nas décadas passadas vemos agora brilhando ainda mais nas vitrines.Por isso que eu digo que a moda nunca sai de moda
Vestir camisetas largas , cores neutras e simples com uma calça jeans básica e até mesmo bermudas listradas tentando fugir de toda essa tendencia , sinto lhe informar amigo , mas você também está na moda.Não há como fugir dela,e quando você se der conta está totalmente dependente disso tudo,aliás , todos nós estamos , sem excessões. Vai do all star até a flanela , da calça colorida ao tênis nautico que marcaram os anos 80 e que agora ganharam várias outras estampas saindo do básico . Não é atoa que dizem que tudo que vai , volta . A moda é a prova concreta disso .
E há quem critique todo esse modismo,que ache ridículo e que queire que a moda no mundo acabe , com cada um vestindo o que quiser in
dependentemente de estar na moda ou não.E eu só acho e tenho certeza de que a moda nunca vai acabar,porque até mesmo as próprias pessoas que tanto criticam não deixarão.Precisamos da moda para vestirmos,não são somente pedaços de pano,e correntes penduradas no pescoço ou na calça (como estão usando) , ou scarpins , sandálias altissímas ou rasteirinhas , um tênis florido e até mesmo chinelos de dedo.Não importa o que você use,até mesmo seu cabelo bagunçado vai fazer parte desse ciclo.Cada qual quer ser diferente,ter seu estilo próprio e nem pensar em passar perto dessa tal de moda em que todos dizem como é pra se vestir e como combinar cada peça de roupa.
Mas e agora por falar em moda , devo tocar
no assunto das ''modinhas'' , ah essas sim , eu as odeio do fundo do meu coração . Modinhas são essas coisas que começam com um significado e que no final acabam totalmente sem sentido quando transformadas em uma coisa que todos usam e dizem gostar só por ver que é a sensação do momento e que vai abalar . Cara , isso não é legal , essa sim é uma moda ridícula , fazer e usar uma coisa porque todos fazem , e depois ainda te julgam dizendo que se eu fizer também - sendo porque eu realmente gosto , sei o significado e como fazer de um jeito que venha mostrar seu real sentido - eu vou estar nessa modinha fútil tanto quanto os outros . Não sabem de que modinha estou falando ?


A tendência mustache - até pouco tempo ninguém sabia da existencia do ''bigodinho'' ,tanto na fotografia quanto em acessórios,objetos de decoração, sem ao menos saber o que é e porque foi criado .Pois então , o bigode é o principal simbolo do protesto pelo machismo , criado nos EUA por um grupo de mulheres. E agora meninos , o que me dizem , vão continuar usando em suas fotos ?


Existem outras mil modinhas espalhadas por aí , até inventarem a próxima . Mas essa do bigodinho eu tive que fazer um comentário mais aprofundado porque merece .Modinhas vêm e vão todos os anos,muitas até aceitáveis,porém existe um tipo de modinha insuportável,que é quando algo realmente ruim,ridículo ou tosco,cai no gosto popular.O pior é que a cada dia que passa as coisas ruins e mal feitas acabam caindo no gosto do povão.Mas em vez de criticarmos essas modinhas que passaram e que vão passar,é melhor rirmos delas e das pessoas que estão dentro delas.

E o que o Felipe Neto acha disso ?

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Nuca dos olhos meus

Esse moço aí , tem a nuca mais bonita que eu já vi . Nucas são polemicas . E eu a acho perfeita , encaixa-se perfeitamente a sua cabeça , a seus olhos fartos de ternura , uma ternura de outro mundo . Seu nariz parece moldado para meus lábios os tocarem e lhe fazer sentir o quão imenso é o meu carinho . Encontrei-o perdido por essas ruas de Dourdan sem ao menos saber que ele tinha a nuca mais bela que vira nos últimos vinte anos . E era isso que lhe faltava saber , ele era diferente , e não era normal o que senti quando o vi passar despercebido , cabisbaixo . Ei moço , tá se sentindo bem ? Quase o falei quando o percebi inquieto , à procura . Posso o ajudar ? Eu queria fazer algo por aquele rapaz , eu precisava . Vontade de gritar , moço eu aqui - não suporto ver um homem desse jeito , tenho vontade de pegá-lo e levar aquele rosto de decepções pra longe , lhe cuidar e dizer palavras que só façam sentido pra nós , lhe beijar a boca e fazê-la mudar de humor , morder sua nuca e dizer que és a melhor do mundo . Agora moço , espero que cuide de mim , cuide das minhas amarguras e lhes façam sumir , é o que peço . Sente-se , vamos conversar sobre esta sua nuca que me faz morrer de amor e vontade de lhe levar pra casa . Moço , espera - tenho que lhe levar comigo !

sábado, 8 de outubro de 2011

Pouco pra ele

Eu sempre digo que ele é tudo pra mim , e nunca é da boca pra fora . São mil e uma razões pra estar com ele e infinitas outras pra não deixá-lo nunca . Ele não é somente um cara , posso dizer que ele sim é o cara , a pessoa que eu mais admiro no mundo . Tenho sorte , só pode ser isso . O cara é bom em tudo que faz , com todas as palavras e todos os gestos . Embora eu o conheça muito bem , ele sempre dá um jeitinho de me surpreender . Aquela palavra que está sozinha num canto , ele resgata e da todo o sentido . Ele sabe se expressar e me fazer entender as coisas que as vezes eu mesma me nego . As vezes eu ainda acho que sou muito pouco pro tudo que ele é . Eu sou boba , chata , ciumenta , e ainda tenho pensamentos e atitudes de menina da minha idade , e ele , um homem que é tudo e muito mais do que eu sempre sonhei anos atrás .Não sabia da metade das coisas que sei agora , como não sabia que existia um cara que fosse tão maduro pra idade que tem , e fosse coberto de perfeição . A cada dia que passa eu tenho certeza de que é ele o homem da minha vida , e é com ele que vou ter filhos , uma casa , e um amor verdadeiro . Mesmo eu sentindo que eu não sou tudo que ele merece , eu vivo pra ser cada vez melhor , e crescer como pessoa e como mulher , ao lado dele , com o seu apoio que é o mais importante pra mim . Porque esse cara sim é foda pra caralho .

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

De princesas e demonios

Nunca acreditei em fadas do dente e quis viver no mundo do Peter Pan , nem saber se realmente existia a Sininho ou os meninos perdidos . Isso não era coisa de se acreditar , só meninas tolas abriam o guarda-roupas para ver se nenhum monstro escondia-se lá , só esperando a hora de dormir para atacar e arrancar seus olhos e sua infância . Mamãe sempre disse que as meninas más tinham suas cabeças decapitadas pelas garras daqueles furiosos monstros que todas desconheciam por medo de realmente ser verdade . Eu não queria ser a primeira a descobrir .

Minha mãe nunca acompanhou-me até o quarto para contar historias de Cinderela até eu pegar no sono . Subia as escadas em direção ao quarto , era somente eu e aqueles ruídos na madeira velha de cada degrau que insistia em acompanhar-me . Eu já havia me acostumado , até chegar ao alcance da fresta do quarto onde a luz do abajur clareava minha visão até lá . Girando a maçaneta devagar temendo ver algo que não queria , fechava os olhos e corria até a cama , abrindo-os só depois de ter as cobertas sobre eles.E eu não tinha medo. Mas sabia que mamãe estava certa quanto ao monstro . Eu o sentia lá durante todo caminho até a cama . Era fácil saber quando e em que canto do quarto ele estava . O espaço diminuía gradativamente . Eu e eu não sabia exatamente o que era . Mas sabia-se que era grande e maior que eu , com certeza . Já era considerado um monstro por ter um tamanho tão mutável .

Perdia-me em meio a capa protetora de bichos, demônios, dementadores e espíritos malignos e agora o monstro do guarda-roupa fazia parte desse grupo . Estava pensando em pegar mais algumas capas dessa para a noite de amanhã . E eu não sabia ao certo como eram esses monstros de que todos falam e ninguém vê . Como proteger-me agora ? Mas peraí , porque estou querendo esconder-me de uma coisa que nem vi . Não importa . Vou permanecer aqui , quietinha , pra nenhum desses seres me notarem . Mas talvez já tenha passado da meia-noite e eles queiram me assustar. Fingir que estou dormindo adiantaria alguma coisa ? Claro que não , sua tola . O monstro está saindo da caixa e você aí querendo fingir-se de morta . Caixa ? Foi isso mesmo ? Descubri meu olho direito e levei-o até o canto do quarto onde estava uma caixa que nunca tinha visto antes . Garanto que o notaria se estivesse lá há mais tempo . Mas lembrara que mamãe havia guardado àquela tarde , todos os meus brinquedos ali - já não brincava desde os meus seis anos,não fazia sentido deixá-los na estante alimentando-os de poeira e rejeição , mas foi naquela noite que os notei ali , encaixotados e, agitados .

De repente você descobre que os piores monstros eram aqueles que estavam a muito tempo escondidos e invisíveis , e que não eram nada parecidos com a imagem assustadora que tínhamos em mente . O que vi sair daquela caixa , tinha certeza de que não poderia existir , não era possível . Mas também não era o que eu acreditava que seria . Os monstros muitas vezes podem enganar-nos com suas mascaras , assim como as fadas com suas varinhas de condão . Olhos doces e dissimulados,ninguém nunca imaginaria que fariam parte de uma trama de suspense. Enganaram a mamãe , e o monstro a mim .




Olhos de criança

Ele era imaturo com rosto de criança doce e ingênua , e eu , a criança mais boba do mundo . É claro que eu sinto sua falta as vezes , qual a criança mimada por ele que não sentiria . E um dois dias em que mais lembro da sua existência é quando passo pela avenida 47 , e lhe vejo no reflexo das poças que ficaram naquele túnel após a tempestade do dia anterior. Ainda sou uma criança . E uma parte dela que vive aqui dentro , continua brincando de balanço no fim da tarde.E quando me ponho a frente a cada poça chuto a agua como quem estivesse brincando , e ao mesmo tempo não quisesse mais brincar porque enjoou . Sempre deixei de lado aquilo que me faz mal , aquele que me põe de lado no jogo e que sempre me deixa como ultima opção . Por que agora seria diferente ? Ele foi apenas uma criança como tantas outras . E eu ? Acho que nunca fui tão criança assim . Pelo menos não como ele , longe de mim . Pode-se dizer que fui a boba , a mesma que agora chuta a poça tentando acertar sua cara e lhe apagar de lá .Chegar ao outro lado da avenida , onde ainda haja o balanço pendurado na árvore mais antiga do jardim, intacto ,só esperando por mim . Sorrir como uma criança inocente ao reconhecer outro bobo lá de longe aproximar-se e lhe mostrar como realmente se brinca , de mamãe e papai.

sábado, 27 de agosto de 2011

Medo do fim da rua

Éramos jovens com medo de escuro , medo de altura e de assombrações . Costumávamos sair todas as noites para perambular pelas ruas calmas e cinzentas . Gostávamos de desafiar o medo . Andávamos em grupo sempre com o maior numero possível , éramos apenas nove àquela noite . Um mínimo barulho no silêncio parecia ser multiplicado por mil . Achávamos divertido sair quando todos já estavam em suas casas protegendo-se do perigo da noite . Mas perai , que perigo ? Era o que estávamos procurando . Meus amigos não tinham medo de achá-lo , e eu com um pequeno medo de andar sobre o caminho que levasse até ele . Parece loucura mas embora não soubéssemos de que perigo estávamos falando , aquele em que todos tinham medo e se escondiam em suas casas ás noites de lua vermelha , queríamos encontrá-lo o mais rápido possível .

Caminhando por aquelas ruas que nada tinham de terríveis . Silencio absoluto . Agora ninguém abre a boca , que o barulho está chegando . Olhos arregalados , pareciam que saltariam longe de suas faces amedrontradas , um olhava para o outro com um sinal de interrogação com um ponto de dúvida , o que aconteceria agora . Eu era a única menina junto á eles . E aliás , a que mais mostrava coragem.Meninos sempre foram mais medrosos.Não sabem ao certo o que é ter medo,apenas dizem que sentem.

Segui a frente deles como quem tem um plano , mesmo com a cabeça dominada por aquele zumbido assustador que estava aproximando-se.Só eu estava escutando ? -Meninos , o que há com vocês , não ouvem ?- Me bateu um nervosismo e confesso que até um pouco de medo ao ver que estava praticamente sozinha entre oito . Procurando o zumbido olhava para cada esquina pedindo que nada visse e me convencesse de que não era nada . Olhei a minha esquerda , a direita e a todos os pontos possíveis , mas não importava pra onde eu olhasse e sempre um vulto negro me acompanhava - Meu Deus me proteja do diabo - repetidamente e internamente . Por favor eu não fiz nada sou uma boa moça - Meninos falem comigo - Nada adiantou . Corri para onde as sombras não me vissem , corri para ninguém me enxergar . Corri para que meus olhos não ameaçassem saltar como os dos meninos , que por sinal , já não via mais eles . Quando me lembrei já estava longe , de tudo e de todos , até de mim mesma . Mas eu não poderia deixá-los lá , e também não poderia voltar .

Agora eu estava presa entre meus amigos e as sombras que me perseguiam . Espera , me acharam . Fiquei parada no mesmo lugar com os olhos a beira de pular fora e me deixar , sair correndo como eu não consegui . Estátua com os braços esticados sobre o corpo . Sem conseguir gritar e rezar , já nem sabia mais como . Senti meus olhos serem arrancados e agora nem isso eu tinha mais , fugiram como eu deveria ter feito . Por um instante passou a imagem dos meninos á minha cabeça , como se eu estivesse os vendo . Eles estavam lá , parados no mesmo lugar . Me esperando .

E eu que já nem sabia mais onde eu estava , sentei-me ao chão , que eu me lembre á ultima vez que vira eu estava no meio da rua . Arrastei-me pelo asfalto coberto de sangue por onde minha roupa o espalhava . Não sabia mais onde morava nem como chegar lá . Senti o medo pelo caminho , e achei que não fosse sentir-me quase morta de medo quando o encontrasse.Eu era corajosa e queria o encontrar , aquele perigo que nem sabia se era verdade o que todos na vizinhança comentavam - O medroso que fantasia-se de corajoso sempre tem seus olhos arrancados pelo medo no fim da rua - e agora eu já não tinha mais o medo , nem a coragem . E agora nunca mais veria a cara de pavor , de medo , de coragem de amor de meus amigos , muito menos os encontraria . Eles ainda continuam lá com a mesma cara de espanto , e eu aqui , vazia e cega pelos meus medos .

Sem exageros

Ele vez tudo como na primeira vez . Me fez linda , me fez mulher . Seu toque deixou rastros de uma paixão avassaladora , de um desejo incontrolável dentro de mim . Como se cada toque , cada beijo fossem o primeiro . Sabe , não são muitas mulheres que sentem-se como eu nesse momento , também não sei se existe mulher mais feliz do que eu . E não há .

Senta lá meu amo , pega aquela coberta gelada para aquecermos á ela . Vamos fazer tudo como se fosse a primeira vez . Vou lhe preparar chocolate quente e você irá queixar-se com o excesso do açúcar , tomará uns goles e deixará a caneca de lado , dará uma risada me fazendo rir do meu exagero . Me sentirei uma boba exagerada em tudo que dou a ele , tanto no amor , nos tapinhas e nos apelidos toscos dados com carinho , no ciúmes , nas atitudes muitas vezes não pensadas , nas palavras mal ditas , no ódio mortal quando alguém aproxima-se dele , naquele medo idiota de perdê-lo . Exagerada no açúcar . Sim sou exagerada em muitas coisas , mas sabe que eu não consigo exagerar nos meus sentimentos por ele , sei lá nenhum deles é exagero . Exagero não é a palavra certa quando lhe digo que o amo com todas as minhas forças e nunca o deixarei cair . Isso é amor . Um amor que sempre tive medo de sentir quando não o conhecia , medo de exagerar . Quando o amei e disse que seria para sempre , não foi exagero , não foi mesmo .

Deixarei minha caneca de lado para lhe fazer sorrir . Mas sei lá , mesmo com a caneca em mãos ele sorria , deve rir da minha cara de boba apaixonada com a boca lambuzada de chocolate quente feito de açúcar . Ele sorri , e eu acho isso tão maravilhoso quanto sentir ele ao meu lado todo instante . Seu rosto seus olhos , tão meus . Ele é meu . Pega na minha mão , me abraça e me beije como na primeira vez . Vamos ser um só , assim , pra sempre ?

Vamos nos perder em baixo da coberta fria , levemente aquecida e a faremos pegar fogo ? E não , não é exagero . Ele consegue fazer tudo pegar fogo quando estamos juntos . E agora sem exageros , quer ser meu , assim pra sempre ?

sábado, 20 de agosto de 2011

Crime de coração

Rua perfeita para cometer um crime . Eu tinha tudo sob controle . Lugar , hora marcada e as próximas vítimas . Meus olhos corriam percorrendo todos os ângulos daquela avenida pouco movimentada . Corria sobre o pouco tempo que me restava e parecia passar mais rápido a cada batida acelerada do meu coração , procurando por um sinal de largada . Era só eu e eu agora . Ah , e uma arma na mão direita sofrendo xiliques como na primeira vez .
Como se fosse hoje eu ainda lembro dessa primeira vez . Eu era ingênua , carente e não tinha cabeça para carregar uma arma no bolso da calça Jean . Esse dia veio rapidamente á minha cabeça quando peguei nessa arma novamente , assim como lembrei da minha primeira vítima . Ele não sabia quem eu era , o que eu fazia . O que eu mais queria era que um dia ele intendesse o que eu era . Ele nunca intendeu . Agora tenho que ficar mais atenta , o próximo está por vir . Á meia noite em ponto ele estará cruzando aquela esquina com ar de suspeito . Tenho que pensar no agora , no daqui a pouco . Carregar a arma . Vestir as luvas e a venda . Ele estará por vir , meu Deus eu fico repetindo isso sem parar , devo colocar um fim agora . Ele estará por vir . E eu ainda não consegui tirar isso da minha cabeça . Ele estará por vir . E eu estarei aqui tremula no meio da rua parada ansiosa com a sua chegada . Ele nunca foi pontual , por que esperaria isso dele logo hoje . Eu realmente estava ficando perturbada com seus defeitos . Deveria pôr um fim nisso,logo.Agora. É agora .
Meia noite e dois da manhã de sexta-feira-treze e ele aproxima-se passando á esquina. É agora,vou colocar a venda.É agora é agora é agora é agora . Não sei porque diabos fiquei parada com aquele pedaço de pano em minha testa o vendo chegar mais perto de mim sem soar qualquer ar de dúvida e espanto . Ele estava ficando louco , perturbado . Meus olhos direcionaram-se automaticamente para sua mão direita suando frio , quase congelado com uma arma presa a ele . Seu braço esquerdo ergueu-se levemente junto a arma mirando meu peito . Ele era louco , tive a certeza agora . Mirei em seu coração . Estávamos os dois parados frente a frente como duas crianças loucas sem saber o que fazer com uma pistola de água entre os dedos , mas prontas para ferir a espera de um primeiro golpe . Ele não há de atirar . Eu sei que eu também não iria conseguir . Hoje não . Olhos penetrantes abaixou a cabeça lentamente , abaixou a arma e deixou escapar uma lágrima . Nenhuma das minhas vítimas reagiram assim . Ele foi o primeiro , e seria o ultimo ? Foi quando ajeitei a arma no bolso da minha calça e vi seu lábio superior tremulo como nunca vira antes . Ainda tremulo sussurrou ''Eu não sabia o que estava fazendo'' ajoelhou-se sobre o chão e completou ''Você não merece um cara como eu,este é o fim'' . Nunca me sentira tão destruída sem ter feito nada . Eu não podia fazer algo agora . Ele estava mais destruído do que eu .
Vendo ele atirado no chão como se fosse um nada , perdi minhas forças de mulher decidida , e tentei buscar forças para tirá-lo do chão sujo ''Eu sempre lhe amei com todos os seus defeitos.Nunca quis lhe ferir.Não desse jeito'' o que eu queria naquele momento era ir correndo e levantá-lo , lhe colocar junto a mim e lhe dizer que , eu fui fraca . Por todos os meus amores eu lutei e matei . Lutei até matar , lutei com todas as minhas forças . Matei a sangue frio . Arranquei do peito todos os sentimentos que ainda poderiam abrir uma ferida ainda maior . Deixei um buraco no coração de quem disse que me amou , como eu queria ter feito com ele agora . Sentir um pouco da saudade que eu senti , mas nunca quis feri-lo.Se quis , não quero mais. Eu lutei por ele , ainda estou lutando . Não chegou a hora de matar . Puxei-o do chão rapidamente e coloquei-o entre meus braços precisando dos dele . Voltei a prometer que nunca o mataria dentro de mim e nem tentaria o matar .
Nesses dois anos ele nunca havia me olhado tão intensamente como agora . Ou talvez eu nunca tenha os visto dessa maneira . Começara a chover e a cena de crime estava intacta como minutos antes da largada final . A prova do crime estava indo embora com a chuva agora , lavando as poucas lágrimas em nossas faces . Ele abraçou-me forte e sussurrou em meu ouvido ''Eu nunca fui o cara certo , mas por você eu mataria , e morreria , para não te ver chorando novamente''. Abaixei os olhos com uma piscada funda e demorada e calei-me . Ele sempre foi o cara certo . Me atiraria na frente da bala de uma pistola para salvá-lo , até pensaria em matá-lo para lhe ver sorrindo se fosse preciso . Eu tentei .