Eu era criança , e não sabia que as coisas iriam ficar mais complexas com o passar dos anos . Pensava que casar era brincar de casinha , deixar de ser mãe solteira e passar a ter um garoto dentro de casa pra lá e para cá , com o carrinho que não soltava por nada , nem que eu o empurrasse contra a parede suplicando que corresse atrás das crianças , enquanto fazia seu almoço para levar pro trabalho . Seu único gesto era : Quê crianças ? E eu nada escutava . E ele dizia que saia para trabalhar , enquanto eu fazia de conta de que ele não estaria na casa de sua mãe lhe pedindo colo e batendo o pé por aquele carrinho novo que tanto queria . Ele saía e não voltava mais , se escondia , corria com seus amiguinhos e me chamava de louca . Eu louca ? Só um pouquinho , por uma família minha , filhos meus , casa para eu cuidar , e principalmente um marido que não inventasse qualquer desculpa para não ficar pro café da manhã .
Eu queria casar , o mais rápido possível . Estava preparadíssima para cuidar de mim sem a mãe por perto , afinal , eu era a única que adorava fazer de conta que era adulta , de que era uma mulher feita , cheia de filhos puxando a barra da minha saia enquanto fazia o almoço , e achava que tinha muitos compromissos . Logo mais daria uma ajeitadinha na casa á espera de um marido que nunca chegara .
Talvez eu tenha esperado tanto por tudo isso que a um tempo atrás eu já não queria cuidar nem de mim . Foi nessa parte da historinha que deixou de ser um conto infantil pra tornar-se um romance adulto , com casa , filhos , emprego , responsabilidades e aquele tal de príncipe encantado que mesmo eu o chamando assim , como nas historias de contos de fada , não deixa de ser . É o meu príncipe , aquele que eu tenho absoluta certeza de que nunca fugirá como os outros . Esse não brinca de carrinho . Ele veio de cavalo branco e me resgatou de todas as histórias de terror , beijou minha mão olhando nos meus olhos e então disse : nós vamos ser felizes para sempre . Afinal , já passamos da fase de brincar de faz de conta . Há muito tempo .
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